Archive for the ‘The World’ Category
Tupinambás
Em “A Batalha Temerária”, Gerard e Oludara encontram uma tribo de nativos tupinambás, uma das nações de nativos brasileiros costeiros que falavam tupi.
Os “tupinambás”, propriamente ditos, habitaram vários rios e uma área litorânea desde a boca do Rio São Francisco (que hoje divide Alagoas e Sergipe) quase até Ilhéus. O lendário Caramuru foi acolhido pelos tupinambás desta região após seu naufrago. Os tupinambás eram inimigos tradicionais dos tupiniquins.
Milhares de tupinambás foram categuizados pelos jesuitas e chegaram a habitar aldeias perto de Salvador. Outras tribos se mudaram para o sertão e chegaram até o litoral de Maranhão.
Os tupiambás moravam em aldeias formadas por grandes cabanas, chamadas de malocas, de até cem metros de comprimento e cinco metros de altura. Cada maloca podia abrigar várias famílias, cada uma com seu próprio espaço e fogo, e cada pessoa dormia na sua própria rede. Era normal uma aldeia ter de trezentos a até mil pessoas. As malocas foram construídas ao redor de um terreiro: uma clareira no meio da aldeia para assembleias, festas e outros eventos. Muitas vezes, os índios cercavam a aldeia com um muro de pau-a-pique (com seteiras) e uma cerca de madeira.
Cada maloca tinha seu próprio chefe, que podiam se reunir no terreiro para debater questões da aldeia. Em tempos de guerra, a aldeia podia escolher um principal, normalmente um grande guerreiro, para fazer decisões para todos. Os líderes espirituais dos tupinambás, os pajés, praticaram diferentes formas de medicina e comunicaram-se com os espíritos para fazer profecias, pedidos, e expulsar espíritos malignos.
Os tupinambás não usavam roupas, mas enfeitavam seus corpos com penas vermelhas e amarelas, e colocavam pedras coloridas em furos nos lábios e bochechas. Alguns usavam brincos e colares de búzios, e os homens raspavam os cabelos de cima, deixando uma “coroa” de cabelo muito parecida à tonsura dos monges europeus. As mulheres deixavam o cabelo comprido.
As mulheres trabalhavam no plantio e colheita de alimentos, fabricação de farinhas, criação das crianças, e produção de bens como cestas e tecidos. Os homens caçavam e pescavam, derrubavam o mato para plantio, buscavam lenha, fabricavam canoas, e participavam de expedições guerreiras.
O casamento entre tupinambás priorizava a união avuncular (tio materno com sobrinha), ou entre primos cruzados, mas necessitava que o jovem passasse por testes, sendo o principal deles um cativo de guerra para o sacrifício.
A economia dos tupinambás era uma de subsistência, recolhendo e caçando apenas pelas necessidades. Cada família possuía uma plantação própria de mandioca, que os índios comiam com peixe e carne de caça. Outros produtos agrícolas comuns incluíam milho, frutas, abóbora, feijão, tabaco, e algodão. Após a chegada dos Europeus, era comum a prática de escambo, trocando comida ou serviços para iscas, facas e outros bens.
As nações Tupis guerreavam entre si com frequência, viajando semanas ou até meses para atacar os inimigos. Os invasores usavam canoas para navegar rios e levavam farinha de mandioca seca como suprimento. Os inimigos capturados foram mortos, assados, e ingeridos em cerimônias honrosas. A arma principal dos tupiambás, para a guerra e para a caça, era o arco e flecha, uma arma que eles manejavam com grande habilidade. Na guerra, alguns também usavam escudos de vime, e espadas de pau.
Os tupinambás eram grandes apreciadores de música, cantando cantigas ao som de tambores e maracas quando bailavam.
Outro grupo de tupinambás, os tamoios, popularam a região perto da Baia da Guanabara e Cabo Frio, até seu massacre na guerra da Confederação dos Tamoios (1556 a 1567). Eles receberam o apelido “tamoio” (“avô”, em tupi), por ser o primeiro povo Tupi a conquistar terra no litoral, séculos antes da colonização portuguesa.
Sabemos muito sobre os tupinambás hoje graças aos cronistas europeus da época. Estavam entre eles: Soares de Sousa, Hans Staden, Pero de Magalhães de Gandavo, e Fernão Cardim. Além desses, dois grandes antropólogos do Século XX escreveram obras sobre os tupinambás: “A Organização Social dos Tupinambás” por Florestan Fernandes e “La Religion des Tupinamba” por Alfred Metraux.
Tupi
Em “A Batalha Temerária”, Gerard e Oludara encontram uma tribo de nativos tupinambás. A linguagem usada por eles, conhecida como tupi, era a mais comumente usada pelas tribos costeiras brasileiras na época da colonização européia. Entre as nações de nativos brasileiros que falavam tupi estavam: Tupinambás, Tupiniquins, Tabajaras, Potiguares, Caetés, Tupinaés, Tamoios, e Temiminós. A palavra “tupi” também se refere a estes povos.
O tupi antigo faz parte de conjunto de famílias linguísticas das populações indígenas sul-americanas conhecido como “macro-tupi”. Este tronco linguístico aborda as línguas Ariquém, Aueti, Juruna, Maué, Mondé, Mundurucu, Puruborá, Ramarrama, Tupari, e o Guarani.
Uma versão do tupi tornou-se a língua franca (língua adotada para a comunicação de grupos multilíngues, geralmente por razões comerciais, diplomáticas, ou administrativas) dos primeiros colonos brasileiros, até 1758, quando o português foi nomeado como língua oficial. No entanto, essa língua franca deu origem ao nheengatu (“fala boa”, em tupi), um dialeto falado até hoje em partes da região Amazônica.
O tupi antigo se tornou uma língua extinta há centenas de anos atrás, no entanto, graças a linguistas como Eduardo de Almeida Navarro, a língua foi recuperada, e está sendo ensinada novamente para descendentes das tribos originais.
Mesmo assim, a língua continua presente na língua portuguesa contemporânea, e é responsável por alguns termos (arapuca, jururu, toró, socar, capinar, etc.), nomes de certas plantas e animais (jacaré, abacaxi, capim, tatu, etc.), nome de cidades (Paraná = rio afluente, Sergipe = rio dos siris, Ipanema = água suja, Curitiba = pinheiral, Goiás = gente da mesma raça, etc.), e até a preferência pelo gerúndio (“estou fazendo”, diferente de “estou a fazer” do português europeu). Apesar do desconhecimento de muitos brasileiros sobre o significado dessas palavras, é inegável a enorme influência que essa nação teve na construção de nossa identidade cultural e linguística.
Mais recentemente, linguistas trabalharam com os atores do filme Hans Staden, de 1999, para recriar o tupi antigo. Assistir a este filme é uma ótima maneira de ouvir como é que soava o tupi antigo.
Arcabuz
O arcabuz, uma arma de fogo primitiva, foi inventado por volta do ano de 1440, no Sacro Império Romano-Germânico. Ele foi usado entre os séculos XV ao XVII, sendo eventualmente substituído pelo mosquete. Pesado e pouco preciso, o arcabuz consistia de um tubo de metal adaptado a uma coronha de madeira, e tinha um peso de, em média, cinco quilogramas. Sua munição consistia de balas esféricas de chumbo, carregadas pela boca. Não houve diâmetro padrão de cano no século XVI, por isso, os tamanhos das balas variam, mas a partir de uma fonte do século XVI (1512), podemos calcular que as balas mediam cerca de 15 milímetros de diâmetro e pesavam 20 gramas (calibre 60).
Os modelos mais simples utilizavam um mecanismo de fecho de mecha para disparar, que acionava uma alavanca para soltar um fósforo aceso dentro da caçoleta (onde residia a pólvora). Modelos mais sofisticados do século XVI utilizavam mecanismos chamados fecho de roda, fecho de sílex, e snaphaunce para gerar faíscas, o que diminuiu a necessidade de acender um fósforo antes de atirar (e os problemas relacionados de umidade e chuva).
Embora arcabuzes fossem pequenos o suficiente para serem disparados do ombro, seu peso e o cano de espingarda sem raias tornavam extremamente difícil disparar precisamente de tal forma. Assim, a maioria dos atiradores utilizava uma forquilha para apoiar a arma. Essa forquilha era muitas vezes ligada à arma para ser dobrada e desdobrada, conforme a necessidade.
Por ser uma arma portátil, os arcabuzeiros podiam ser agrupados, oferecendo um grande poder de fogo ambulante. O disparo de um arcabuz podia chegar a até oitocentos metros de distância, mas com chances mínimas de acertos a mais de cento e cinquenta metros.
O arcabuz era tipicamente uma arma de cano liso, o que o tornava altamente impreciso, mas Augustus Kotter de Nuremberg desenvolveu a técnica de estrias espiraladas conhecida como “raias” em 1520. Esta técnica, embora não tenha sido amplamente utilizada até o século XIX, foi aplicada a alguns arcabuzes (como o de Gerard), aumentando muito sua precisão.
É por isso que, em “O Encontro Fortuito”, vemos Gerard mencionar “Sou um dos melhores atiradores de arcabuz que você já conheceu”. Além de suas longas horas de prática, ele certamente tinha à sua disposição uma dos melhores armas de fogo em todo o Brasil!