Hoje temos mais uma entrevista, e a formidável pessoa a nos fornecer um pouco de seu tempo é Roberto Causo. Com um grande histórico em sua carreira como escritor e editor, Roberto é responsável por grandes obras, como “A Saga de Tajarê”, teve seus contos publicados em mais de onze países, e chegou a ser reconhecido pela Zero Hora como “um dos brasileiros de maior reconhecimento na literatura fantástica”.
Se você não conhece suas obras, você pode dar uma olhada em sua bibliografia clicando aqui.
1 – Você tem um grande histórico como escritor e editor. Como você começou essa jornada?
Assim como muita gente na área de ficção científica e fantasia, comecei como fã desses gêneros, ainda criança com quadrinhos, depois com a série alemã Perry Rhodan, com os clássicos da FC. Comecei a escrever em 1985, depois de uma tentativa frustrada poucos anos antes. Como ficcionista, publiquei profissionalmente pela primeira vez em 1989, e nunca mais parei. O trabalho de editor eu imagino que tenha sido um desdobramento da minha atividade como fanzineiro e a partir dos contatos que fiz dentro da comunidade brasileira de FC. Em 1993, organizei a antologia Tríplice Universo para as Edições GRD, fui editor free-lancer junto à Editora Aleph um ou dois anos depois, e na primeira década do século XXI, junto à Devir Brasil.
2 – Nas duas áreas, narrativa e edição, quais são as obras que você considera as mais marcantes da sua carreira?
Gosto muito do meu romance de dark fantasy Anjo de Dor, e do romance de space opera militar Glória Sombria. Minhas novelas de FC ambientadas na Amazônia, Terra Verde, O Par e Selva Brasil também são favoritas. Foi ótimo para mim publicar as antologias dos melhores contos e novelas brasileiras de FC (três volumes), pela Devir, e também editar alguns autores favoritos, como Jorge Luiz Calife, Orson Scott Card e Bruce Sterling. Mas costumo dizer que Christopher Kastensmidt, com a série A Bandeira do Elefante e da Arara, é um dos maiores sucessos com os quais estive editorialmente envolvido — ela pôs Christopher no mapa da literatura brasileira, e está mudando o modo como o brasileiro encara a matéria mitológica do seu país, na fantasia.
3 – Na série “A Saga de Tajarê”, você faz uma união interessante entre “Espada & Feitiçaria” e o folclore indígena. Nos fale sobre esta série e o subgênero “Borduna & Feitiçaria”.
Bortuna & feitiçaria é exatamente isso — fantasia heroica que usa o espaço geográfico e cultural brasileiro. Mas não apenas o folclore indígena, pois A Saga de Tajarê inclui mitologia nórdica e outras fontes, inclusive pseudo-história e ocultismo brasileiros envolvendo comunidades vikings ou atlantes entre nós. Nisso, segue a trilha de alguns pioneiros do nosso passado, como Gastão Cruls, Menotti Del Picchia e Jerônymo Monteiro, revisitando com essa marca brasileira algumas raízes da espada & feitiçaria como weird fiction, uma tendência da década de 1930 que também se metia pelos meandros do ocultismo e de hipóteses estranhas quanto ao passado do planeta. A Saga de Tajarê até o momento tem seis histórias — duas delas publicadas ao lado de histórias da Bandeira do Elefante e da Arara, pela Devir Brasil na coleção Asas do Vento. As primeiras quatro estão no livro A Sombra dos Homens (2004).
4 – Você tem uma vivência forte com a série “A Bandeira do Elefante e da Arara”, como editor e tradutor da série desde 2010. Como foi a sua experiência até hoje e quais são as suas expectativas para o futuro da série?
Trabalhar com essa série tem sido uma bênção. Com a Devir Brasil, editei três livros da série Duplo Fantasia Heroica com as primeiras aventuras da série, e fiz a tradução do romance A Bandeira do Elefante e da Arara. É uma série que ativa como nenhuma outra a nossa imaginação do Brasil, o que representa uma das maiores intervenções sobre como enxergamos a fantasia heroica aqui e no exterior, dos últimos tempos. O romance que reúne a primeira fase da série é extremamente empolgante e divertido, mas com um sólido arco narrativo e personagens que se transformam de maneira surpreendente e muito humana, ao longo das peripécias dos heróis Gerard van Oost & Oludara. Eu aguardo ansiosamente o início das aventuras de Gerard & Oludara na África — antes que os heróis retornem ao Brasil para mostrar como será construído o Império Brasileiro, algo que Christopher lança como semente, no romance.
5 – Para completar, conte-nos um pouco sobre a sua vida fora dos livros.
Não sei se tenho muito de uma vida fora dos livros! Sou doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e presto serviços editoriais, dou palestras e cursos, sempre relativos à fantasia e ficção científica. Sou casado com a escritora de FC Finisia Fideli, e pai do jornalista Roberto Fideli, que mantém com Gabriela Colicigno o site Who’s Geek de cultura nerd.
Muito obrigado, Roberto! Pela sua disponibilidade, e por trabalhar ao nosso lado com A Bandeira do Elefante e da Arara.
– Entrevista por Fernando M. A.