O naufrágio da Madre de Dios
Em “O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara”, Piraju conta ao Gerard:
“Eu era marinheiro na nau espanhola Madre de Dios, que afundou aqui na Baía de Todos os Santos em 1535. A maioria dos sobreviventes do naufrágio foi morta pelos índios, mas vinte de nós fomos capturados para depois sermos usados em seus festejos canibalísticos. Quando já se preparavam para nos cozinhar, Caramuru apareceu e convenceu-os a nos libertar. Quase todos os meus companheiros voltaram para a Espanha; o que me aconteceu, porém, foi que as filhas do Caramuru com a princesa índia Paraguaçu eram as mulheres mais bonitas que eu já vira. Então, convenci uma delas a se casar comigo e me juntei à tribo.”
De fato, a nau Madre de Dios afundou na costa brasileira em 1535, na ilha de Biopeba. Mais de 100 dos 110 marujos conseguiram chegar à costa, mas a maioria foi massacrada pelos tupinambás. Dezessete escaparam em um barco pequeno para a ilha Tinharé, onde foram capturados por outros nativos. Eles teriam sido assassinados se não fosse pela chegada do famoso Caramuru, quem os convenceu a soltar os marujos.
Naufrágio por Joseph Vernet
Surgiu deste evento uma lenda famosa: Caramuru fora buscar sobreviventes porque sua esposa Paraguaçu tinha sonhado com um naufrágio. Em sua visão, ela enxergou um naufrágio de muitos homens, exauridos ou mortos, e entre eles uma única mulher com uma criança no colo. Caramuru descobriu o naufrágio e encontrou apenas homens, mas dentro dos destroços ele recuperou uma estátua da Virgem Maria com Jesus, a própria “Mãe de Deus” que sua esposa tinha visto na visão.
Pintura da visão de Paraguaçu, por Manuel Lopes Rodrigues
Seja como for, Caramuru resgatou os sobreviventes, e quando a maioria voltou à Espanha, quatro deles permaneceram com ele e sua tribo na Bahia. O Imperador Carlos V escreveu uma carta de agradecimento ao Caramuru pela ajuda dada aos sobreviventes.